quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Extração de Madeira na Reserva de Gurupi



No meio do caminho não tinha uma pedra. Mas sim dois caminhões enormes extraindo madeira ilegal da Reserva Biológica do Gurupi .  Fiz essa foto recentemente, numa inda ao povoado de Vila Pindaré (Presa de Porco)
A Reserva Biológica do Gurupi, é o último remanescente de Floresta Amazônica no estado do Maranhão. Considerada uma área prioritária para a conservação. Em seus limites se encontram inúmeras espécies da fauna e da flora ameaçadas. Entre os animais, aves como a ararajuba e a arara-azul-grande, e macacos como o caiarara e o cuxiú-preto encontram na matas restantes da reserva um de seus últimos abrigos.
A formação vegetal é constituída de árvores de grande porte como maçarandubas, jatobás, ipês, andirobas e angelins, que podem atingir até 50 metros de altura. De grande interesse para a indústria moveleira e para a construção civil, essas espécies já desapareceram da região, que foi amplamente desmatada.
No entorno da Rebio do Gurupi existem agrupamentos de pequenos agricultores, assentados e posseiros, todos vivendo em comunidades bastante carentes. Há também três terras indígenas que sofrem as mesmas ameaças ambientais e de violência social que a reserva e as comunidades da região.

Coordenador da Comunidade de Miritituba é assassinado no Pará




João Chupel Primo foi assassinado no último sábado, 22 de outubro. João era líder da comunidade de Miritituba, em Itaituba (PA), e vinha denunciando a exploração ilegal de madeira na região. Ele recebia ameaças de morte e as tinha denunciado para a Polícia local.
Sábado, dia 22 de outubro, por volta das 14 horas, foi assassinado com um tiro na cabeça João Chupel Primo, 55 anos. Ele trabalhava numa oficina mecânica, onde o crime ocorreu. João denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consórcio criminoso, e coordenava a comunidade católica de Miritituba, em Itaituba, Pará. Ele registrou vários Boletins de Ocorrência, na Policia local, das ameaças de morte que vinha sofrendo. E fez várias denúncias ao ICMBIO e à Polícia Federal, que iniciaram uma operação na região.  

A madeira é retirada da Flona Trairão e da Reserva do Riozinho do Anfrizio. As portas de entrada para essa região, que faz parte do mosaico da Terra do Meio, são pela BR 163, Vicinal do Brabo, cortada até o Areia; pela BR 230, vicinal do Km 80, e pelas vicinais do km 95 e do 115. A operação do ICMBIO, que recebeu apoio da Polícia Federal, Guarda Nacional e Exército não teve muito êxito, pois toda noite ainda saem, segundo denúncias, de 15 a 20 caminhões de madeira da área. Além disso, a falta de segurança no local motivou a suspensão da operação. Segundo nota da Prelazia de Itaituba, de 24/10/2011, um soldado do Exército trocou tiros com pessoas que cuidavam da picada quilômetros adentro da mata, e acabou ficando perdido por cinco dias no mato. Depois disso o Exército retirou o apoio e a Polícia Militar não quis entrar na operação.  

O bispo de Itaituba, Dom Frei Wilmar Santin, em nota divulgada ontem, 24 de outubro, denunciou que “a responsabilidade de mais uma vida ceifada na Amazônia é do atual governo, do IBAMA/ICMBIO e da Polícia Federal, que não deram continuidade à operação iniciada para coibir essa prática de morte, tanto da vida da Floresta como de pessoas humanas. Desde 2005 até os dias atuais, já foram assassinadas mais de 20 pessoas nessa região. Quantas vidas humanas e lideranças ainda tombarão?”.    

Maiores informações:  
Padre João Carlos (CPT) – (93) 3539-1130 / 8113-5798
Gilson Rêgo (CPT Santarém) – (93) 3522-1777
Dom Frei Wilmar Santin – (93) 3518-2820 (bispo de Itaituba)
Cristiane Passos (Assessoria de Comunicação CPT Nacional) – (62) 4008-6406 / 8111-2890
@cptnacional

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Juventude Atingida Pela Mineração



Marabá/PA hospedou nos dias 1 e 2 de outubro de 2011 o Primeiro Encontro das Juventudes Atingidas pela Mineração. cerca de duzentos jovens de vários municípios de Maranhão e Pará confrontaram-se a respeito dos diversos impactos provocados pela cadeia de mineração e siderurgia na região e buscaram alternativas. Algo novo está nascendo entre os jovens desses dois estados.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Juventude reunida para discutir mineração no Pará


Ao som do ritmo paraense do carimbó e do reggae maranhense, cerca de 200 jovens  iniciaram na manhã do dia 1 de outubro o Primeiro Encontro de Jovens Atingidos pela Mineração. O evento debateu sobre as interferências dos projetos de mineração na vida dos jovens dos dois Estados.
Com duração de dois dias, o evento recebeu no Centro de Formação Cabanagem, na calorosa Marabá (PA), jovens vindos de várias regiões do Pará e Maranhão, que sofrem com diversas interferências das atividades de mineração já estabelecidas, além do processo de duplicação dos trilhos, conduzidos pela Vale.
Filmes, textos e debates suscitaram nos jovens reunidos a reflexão sobre os principais problemas que os afetam diante dos chamados grandes projetos da região amazônica.
Assim, num levantamento em plenária realizada no encontro, apontaram que a juventude se encontra desmobilizada e ameaçada: “Nosso ponto de vista não é considerado pela elite política”, reclama Marcelo Barbosa da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil.
A falta de oportunidade de emprego, lazer e atividades culturais na região também foram abordados: “Esses projetos trazem violência, aumento da prostituição e exploração sexual de crianças e adolescentes. Na cidade onde eu moro os jovens se sentem descriminados por falta de incentivo sócio-educacional, cultural e de oportunidade de trabalho” diz a jovem Maria Aparecida, de Bom Jesus das Selvas (MA).
Já os poucos jovens que conseguiram se inserir no mercado de trabalho proporcionado, sobretudo, pelos empreendimentos da Vale, disseram ser proibidos de participarem de atividades do movimento popular e se sentem constrangidos por serem obrigados a trabalhar mesmo sabendo que estão contribuindo para a degradação.
O Cenário
Para o Sociólogo e Agrônomo Raimundo Gomes Oliveira, presidente do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp) essa luta é dos jovens: “Vocês são os mais lesados, enquanto trabalhadores inseridos nesses projetos, moradores das comunidades. Vocês sofrem as consequências do déficit educacional e são vítimas principais da violência gerada pelo inchaço populacional dessas cidades”.
Segundo aponta o Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ), a cidade mais violenta do Brasil para jovens entre 18 e 29 anos é Marabá. Marabá precisaria hoje de R$ 165,44 milhões de investimentos para educação pública, segundo estimativas de estudos da empresa Diagonal Urbana.
No entanto, no Pará já funciona o programa da Vale, Estação Conhecimento, em Parauapebas, Tucumã e Marabá. Em Barbacena e Curionópolis esses projetos estão próximas de conclusão. No Maranhão, a Estação Conhecimento Vale funciona em Arari para atender os jovens, com capacidade para 1000 alunos. Sem contar o TeleSol Vale, um programa de alfabetização da mineradora, que atua em  Açailândia, e Alto Alegre do Pindaré, ambas cidades do Maranhão.
“Esses cursos técnicos são amortizantes para luta da juventude. Nós não queremos só curso técnico, voltado só à atividade de mineração, que nos faça uma máquina obediente ao trabalho, mas investimentos em cursos que façam os jovens serem críticos ao seu meio circundante”, afirma o jovem Pablo Néri do assentamento Palmares, de Parauapebas.
Oliveira concorda com o jovem, “não podemos formar uma civilização da mineração, que torne as pessoas acríticas aos projetos de mineração e aos problemas gerados”, diz. A pobreza que assola as comunidades propicia um cenário favorável aos programas implantados pela Vale: “Parece algo que a mineradora faz em prol da comunidade, camuflando seus interesses reais”, alerta o sociólogo.
Em Bom Jesus das Selvas, por exemplo, conforme o último censo (2010) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 50% da população vive com menos de R$ 70 reais por mês. “Para nós é muito difícil, qualquer dinheiro que a Vale invista aqui em Bom Jesus das Selvas é como se fosse ouro diante da pobreza de nossa população”.
A ideia que surgiu após o 1 Encontro de Jovens Atingidos pela Mineração é a criação de um grupo permanente de estudos sobre os impactos, ações periódicas de agitação e propaganda para alertar a população dos efeitos dos projetos de mineração, além de uma comissão de comunicação social, que faça permear pelas redes sociais informações omitidas pela grande imprensa sobre as mazelas causadas pelos grandes projetos da região amazônica.
O evento foi pensado e realizado pela Pastoral da Juventude, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rede Justiça nos Trilhos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Debate e Ação e Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB).
Por Marcio Zonta, de Marabá (PA) - 06.10.11