terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Uma Ida. Uma Volta

Fotos: Marcelo Cruz


Uma Ida. Na estação de Santa Inês, com um olhar perdido e desconfiado à espera da comprida centopéia, que já está atrasada á uma hora. Uma bolsa nas costas com algumas poucas roupas é tudo que tem. A tristeza por não saber quando voltará para os braços de sua família. O medo do desconhecido. Ouviu falar, que no Pará uma grande fazendo está precisando de trabalhadores.

O trem de Passageiro leva mais um sonho, alguém que sai do Maranhão para encontrar no Pará um trabalho, e assim ajudar financeiramente sua família.

Na estação da cidade maranhense Açailândia, uma família chegar num taxi amarelo, sai de dentro, um homem, uma mulher e mais quatro crianças. O taxista vai ao bagageiro e tira três sacos de fibra tão finos que quem olhasse enxergava as cores das roupas e pertences daquela família. O homem, logo vai comprar as passagens enquanto a mulher alta e morena fica com as crianças que brincam com uma boneca estranha de cabeça grande, em cima dos sacos de roupas.

Logo o trem chega e leva aquela família de muitos sonhos, que se juntam a outros sonhos dentro dos vagões de passageiros. É gente que vai é gente que vem, de lá pra cá, de cá pra lá. Ouviu falar que determinada cidade cresce as oportunidades de trabalho e que será metrópoles do futuro. Com a idéia que será bem acolhido no desconhecido, parte, e dá adeus a historia que deixou pra trás. 

A comprida centopéia chega à estação da cidade paraense Marabá, ás 22 horas. É tanta gente saindo do trem, homens, mulheres, Jovens e crianças. O homem magro, que saiu de Santa Inês vai à procura da fazenda que ouvira falar da vaga de trabalho. A família que saiu de Açailândia continua no trem, só descerá na ultima estação no município de Parauapebas.

Uma volta. Na estação de Marabá o trem está marcado para sair as 8:29 da manhã para o estado do Maranhão. Quanta gente ali à espera do trem naquela semana de carnaval, muito saiam do Pará para pular o carnaval no Maranhão. Como era de costume o trem atrasou mais uma vez. Um empurra-empurra na chegada do trem, gente pra todo lado, alguns gritando estressado com a espera demorada, outros irritados com a falta de organização.

Algumas horas depois, um homem magro com boné preto de tatuagem na mão se aproxima contando de onde vinha, falava que trabalha numa fazenda tirando leite de 120 vacas, com mais dois amigos, em Itupiranga. E que há três meses não via sua mulher e seus filhos. Pedira para seu patrão lhe dá três dias de folga pra ir visitar sua família, em Santa Inês. Com um olhar de saudade e ansiedade, contava às horas pra chegar. Em mês e mês depositava o pouco do dinheiro que ganhava pra mulher comprar comida e roupas pra ela e paras as crianças. Assim nesse vai e nesse vem, em cima dos mesmos trilhos que passam os grandes trens de cargas com seus vagões cheios de minério, levando a riqueza brasileira para fora do país, para enricar grandes corporações comerciais e os donos da mineradora Vale, a história sofrida do povo brasileiro continua no vai e vem, de lá pra cá, de cá pra lá. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

TREM QUE DÁ RITMO E QUE DITA ÁS REGRAS



Algumas das casas na maioria de pau-a-pique, na frente delas a única vicinal que dar acesso ao povoado. Uma vicinal com muito lagos, não pensem que sejam lagos de águas cristalinas, são lagos feito com a água da chuva também conhecido como poças de lamas, concentradas em frente ás casas.

Em baixo de uma mangueira, uma mulher morena de estatura media, varria a frente de sua pequena casa. Sempre de portas abertas, quem passasse em frente enxergava de fora o carinho e o cuidado que aquela mulher tinha de seu lá. Em quanto varria, suas duas filhas aproveitavam a ultima semana de férias da escola para brincar em frente à pequena casinha, em baixo da mangueira. Suas brincadeiras, não eram com as sofisticadas bonecas da barbie. Brincavam de fazer castelos de areia, enquanto uma buscava areia a outra fazia os castelos. E assim as duas meninas construíam sonhos.

As noites eram mais escuras e o céu mais estrelado. Aquele costume de sentar em frente ás casas para contar histórias ou estórias, adivinhas, piadas ou olhar o céu, já era um pouco menos praticado. Alguns se reuniam na casa do visinho para assistir novelas...     
        
Alguns mosquitos atormentavam os visitantes, como eles adoravam umas pernas! Mas lá existe outro mosquito que atormentava muito mais, não só os visitantes, mas todos que há muito tempo vivem naquela comunidade.

Alguns metros ao lado da única vicinal do povoado, uma grande linha de ferro de 892 km passa em frente aquela comunidade. Uma estrada de ferro bem cuidada com manutenção todos os dias, para á passagens dos grandes trens de mais de três mil metros de comprimentos que levam minérios para o porto da capital São Luis/MA.

O trem que passa. trem que vem, trem que pára, tirando o direito de aprender, de prosear, de descansar e de viver.  Trem que dar ritmo e que dita ás regras.

 Quatro horas da manhã, o jovem vaqueiro que cuida do pequeno rebanho de gado de seu velho pai, levanta todos os dias para tira leite, e alimentar sua família. No curral de arames farpado, ver o sol chegar. Na frente dele um trem parado, fica atento, na espera do bendito trem sair do caminho que leva ao pasto, por onde ele passa com suas vacas leiteiras para pastar. Esse é o trem que dar ritmo e dita ás regras na comunidade Centro dos Farias no município de Buriticupu/MA.        

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Curso de agroecologia é realizado nas comunidades impactadas pela mineração em Buriticupu/MA


As nove comunidades Rurais de Buriticupu (MA), que se encontram ao longo da Estrada de Ferro Carajás – EFC se reuniram nos dias 27 a 29 de Janeiro para participar do curso de agroecologia que aconteceu no povoado Centro dos Farias.
Foto Marcelo Cruz

Proposta e Resistência

 No I Seminário de Resistência e Propostas das Comunidades do Município de Buriticupu que sucedeu á quase dois meses atrás, as comunidades discutiram formas alternativas ao modelo de exclusão imposta pela Vale as populações que moram entorno da EFC. Foram debatidas formas de resistências a partir das capacidades da população local.
A rede Justiça nos trilhos com a parceria do Fórum de Políticas Públicas de Buritcupu realizou junto ás noves comunidades uma curso de agroecologia que reuniu no salão de encontros de Centros dos Farias cerca de 40 homens, mulheres e jovens do campo.
A professora de agroecologia Marilena Vieira Leite, no primeiro dia do curso refletia junto as participantes o uso do agrotóxico nas hortas e roças do pequeno agricultor, o veneno que vai parar nas mesas das famílias camponesas e urbanas. Manifestava também a importância de trabalhar a terra de forma sustentável e de produzir alimentos saudáveis.
Uma pesquisa recente revela que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. A campanha “agrotóxico Mata”, dirigida por movimentos sociais e estudiosos, estima que cada brasileiro consome em torno de 5,2 litros de veneno por ano.
“Á pratica da agroecologia bate de frente com os grandes produtores de hortas e da agropecuária, porque visa o cuidado com a natureza e com a vida, e não apenas o lucro.” Relata a assessora do curso de agroecologia, Olinda Vieira Leite.


 A necessidade de um novo modelo 

As comunidades que são diariamente impactadas pela mineradora Vale temem com a duplicação dos trilhos, São mais de 8 bilhões de reais para duplicar toda a Estrada de Ferro Carajás, aumentar em 40 milhões de toneladas o escoamento anual de ferro por ano. Uma obra de elevada envergadura, que prevê nos próximos quatro anos a construção de 46 novas pontes, 4 viadutos ferroviários, 19 viadutos rodoviários, reforma dos 57 pátios da ferrovia. Em função de tudo isso, será necessário construir diversas vias de acesso, deslocar máquinas pesadas, movimentar milhões de metros cúbicos de rocha e terra e utilizar intensivamente a água. Para as comunidades todo isso significa o aumento dos impactos, atropelamentos pelo trem, destruição dos rios e poços, rachadoras nas casas e o aumento do barulho do trem. João Simas Cordeiros morador a mais de 8 anos da comunidade Centro dos Farias diz  “ Até hoje a vale nunca chegou aqui para nos ajudar, prometeu á muito tempo atrás asfaltar a única via da comunidade e até hoje nunca apareceu.” O descaso da Vale as populações das comunidades de entorno da EFC é desumano. “Eles entraram no meu quintal e já foi medindo sem saber quem era o dono. Eu tinha um poço em minha terra onde eu pegava água pra beber e conzinha com a trepidação causada pelo trem derribou as manilhas do poço e soterro. Fui falar pessoal da Vale, sobe o que eles disseram? que não podia parar com o trem para fazer o poço e que eu me virasse e procurasse outro locar pra cavar.” relata Sr. João Sima.    
Frente a essa modelo de exploração que cresce à custa das injustiças sociais. As noves comunidades rurais de Buriticupu se unem em busca de uma alternativa de produção sustentável e rentável. “Esses grandes projetos como agente ver não vem beneficiar o pequeno produtor em nada, eles simplesmente usufruem dos recursos naturais e de todo que existe e levando para fora essas riquezas. Com isso, os pequenos ficam na pior situação, muitos migrando para zonas urbanas chegando à cidade sem um trabalho, sem salário e acabam por parar nas periferias.” Conta a instrutora do curso de agroecologia Marilena