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Fotos: Marcelo Cruz |
Uma Ida. Na estação de Santa Inês,
com um olhar perdido e desconfiado à espera da comprida centopéia, que já está
atrasada á uma hora. Uma bolsa nas costas com algumas poucas roupas é tudo que
tem. A tristeza por não saber quando voltará para os braços de sua família. O
medo do desconhecido. Ouviu falar, que no Pará uma grande fazendo está
precisando de trabalhadores.
O trem de Passageiro leva mais um sonho, alguém que sai do Maranhão para encontrar no Pará um trabalho, e
assim ajudar financeiramente sua família.
Na estação da cidade maranhense
Açailândia, uma família chegar num taxi amarelo, sai de dentro, um homem, uma
mulher e mais quatro crianças. O taxista vai ao bagageiro e tira três sacos de
fibra tão finos que quem olhasse enxergava as cores das roupas e pertences
daquela família. O homem, logo vai comprar as passagens enquanto a mulher alta
e morena fica com as crianças que brincam com uma boneca estranha de cabeça
grande, em cima dos sacos de roupas.
Logo o trem chega e leva aquela família
de muitos sonhos, que se juntam a outros sonhos dentro dos vagões de
passageiros. É gente que vai é gente que vem, de lá pra cá, de cá pra lá. Ouviu
falar que determinada cidade cresce as oportunidades de trabalho e que será
metrópoles do futuro. Com a idéia que será bem acolhido no desconhecido, parte,
e dá adeus a historia que deixou pra trás.
A comprida centopéia chega à
estação da cidade paraense Marabá, ás 22 horas. É tanta gente saindo do trem,
homens, mulheres, Jovens e crianças. O homem magro, que saiu de Santa Inês vai
à procura da fazenda que ouvira falar da vaga de trabalho. A família que saiu
de Açailândia continua no trem, só descerá na ultima estação no município de
Parauapebas.
Uma volta. Na estação de Marabá o
trem está marcado para sair as 8:29 da manhã para o estado do Maranhão. Quanta
gente ali à espera do trem naquela semana de carnaval, muito saiam do Pará para
pular o carnaval no Maranhão. Como era de costume o trem atrasou mais uma vez.
Um empurra-empurra na chegada do trem, gente pra todo lado, alguns gritando
estressado com a espera demorada, outros irritados com a falta de organização.
Algumas horas depois, um homem
magro com boné preto de tatuagem na mão se aproxima contando de onde vinha,
falava que trabalha numa fazenda tirando leite de 120 vacas, com mais dois
amigos, em Itupiranga. E que há três meses não via sua mulher e seus filhos. Pedira
para seu patrão lhe dá três dias de folga pra ir visitar sua família, em Santa
Inês. Com um olhar de saudade e ansiedade, contava às horas pra chegar. Em mês
e mês depositava o pouco do dinheiro que ganhava pra mulher comprar comida e
roupas pra ela e paras as crianças. Assim nesse vai e nesse vem, em cima dos
mesmos trilhos que passam os grandes trens de cargas com seus vagões cheios de minério,
levando a riqueza brasileira para fora do país, para enricar grandes
corporações comerciais e os donos da mineradora Vale, a história sofrida do
povo brasileiro continua no vai e vem, de lá pra cá, de cá pra lá.