segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Erros e acertos no corredor de Carajás

Autor do texto:
Comunidades de Açailândia - Maranhão

Nossas casas estão construídas numa área onde o progresso está querendo chegar com tudo. Erramos, desculpem, não queríamos tirar espaço às empresas. Digam-nos quando é que precisam de nossa terra e a gente vá embora...
A ferrovia do desenvolvimento atravessa nossos povoados escoando minério para vender no exterior e fazer crescer nosso Brasil. Às vezes a gente atravessa os trilhos e alguém de nós fica sendo atropelado pelo trem. Erramos, desculpem, não queríamos atrasar os negócios. De vez em quando, alguém de nós pergunta-se se é justo que o lucro fique acima da vida e da dignidade. Erramos, desculpem, não queríamos dar a impressão de um discurso anticapitalista: afinal precisamos de trabalho, a qualquer condição.
Muita gente chama à atenção por causa desses nossos erros. Chegamos ao limite de pensar que nós mesmos somos errados e que nossa maior falha, afinal, seja existir.
Ponte do Trem da Vale, Piquiá de Baixo
Na verdade, conversando entre nós, damo-nos conta de que alguns erros a gente tem feito sim: levantamos a voz tarde demais, mas ainda há tempo de fazer valer nossas razões.
Às vezes na luta cansamos, pois os resultados demoram, mas ainda há garra. Custamos a unir nossas resistências ao longo dos trilhos do desenvolvimento, mas a rede está se fortalecendo.
Os primeiros acertos começam a aparecer: no Piquiá de Baixo (MA), após anos de protesto silenciado, nossas trezentos famílias estão reunindo empresas, instituições, mídia e administração pública para negociar um tratamento digno às vítimas do progresso e da poluição. Em Ourilândia (PA) a pauta de negociação entre movimentos sociais, Vale e INCRA avançou muito, criando precedentes interessantes para defender os direitos dos assentados, garantir indenizações dignas e condições para recomeçar a vida, apesar dos impactos das empresas.

Podemos errar, mas nunca somos errados, quando clamamos que esse bendito desenvolvimento (na boca de todos agora que precisam de votos) não atropele nossas vidas!

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